Sou, entre outras coisas pouco interessantes, alguém com pensamentos bastante críticos. E, ao contrário do que seria confortável, esses pensamentos não se restringem ao mundo ou à sociedade; eles também, e principlamente, se voltam contra mim. É um incômodo completo. Um tipo de autoconsciência que, sinceramente, não recomendo.
Tudo o que escrevo começa como um recado, uma espécie de puxão de orelha em mim. E durante muito tempo, pensei que compartilhar essas ideias era equivalente a sair pela rua vestindo pijamas com frases filosóficas estampadas, ou seja, pareceria louca.
Arriscado demais, não é?!
Mas, ou eu deixava essas palavras acumularem pó internamente, ou permitia que respirassem um pouco, mantendo meus pensamentos mais limpos. Decidi pela segunda opção e eis-me aqui. Então, hoje, trago respiro a esse incômodo sobre a necessidade insuportável de parecer interessante o tempo todo, para todo mundo, inclusive para quem está nem aí.
Vivemos uma espécie de epidemia performática. Acho que todos já perceberam essa compulsão pelo protagonismo, que não nasce de uma necessidade legítima de expressão, mas que vem de uma insatisfação crônica com o anonimato. A ideia de que só existimos quando somos vistos, e preferencialmente admirados, tem substituído qualquer impulso profundo por reflexão ou contemplação da vida real.
Byung-Chul Han, autor que tenho lido bastante, é certeiro em sua análise sobre vivermos numa "sociedade do desempenho". Nessa sociedade, todos se tornaram empresários de si mesmos, obrigados a comercializar sua imagem com uma eficiência de mercado. E, seguindo essa lógica social, se você não está chamando atenção, claramente está fazendo algo errado. Ou pior: não está fazendo absolutamente nada.
Mas será que isso realmente faz sentido? Será que não percebemos que estamos apenas seguindo uma bússola que aponta justamente para o vazio?
Gilles Lipovetsky chamou esse comportamento de "individualismo de exibição". Para ele, o homem abandonou sua interioridade para definir-se pela busca incessante por reconhecimento, mediada pelo consumo e pela exposição da própria imagem.
Eu me pergunto o motivo pelo qual a vida concreta, aquela com louça na pia, cabelo por lavar e roupa esquecida no varal, deixou de ser interessante, se é nela que de fato a vida acontece. Por que insistimos na novidade, no espetáculo, o tempo todo?
Passamos os dias tentando parecer fascinantes para um algoritmo, nos transformando em atores, diretores, roteiristas e figurantes de um reality show milimetricamente organizado para provar algo que nem sabemos o que é.
Será que não percebemos que isso é antinatural e por isso estamos constantemente cansados?
Chesterton dizia que o homem moderno tem profunda aversão ao comum, mas a sociedade atual, na qual me incluo, ironiza: “Ai de mim ser comum". Talvez o gesto mais revolucionário do nosso tempo seja simplesmente desistir de impressionar. Retornar ao que é simples, ao que é realmente comum.
A exigência de ser nós mesmos e defender a nossa linha de pensamento, fez com que tivessemos que nos escolher e criar artifícios de defesa de nós mesmos. Conhece-te a quem tu és!